Não são só os jovens e adolescentes que encontram Michelle Obama nas rodas de conversa onde apresenta e comenta sobre seu livro que têm muito a aprender com a ex-primeira-dama dos Estados Unidos. Todos nós podemos extrair de “Minha História”, seu livro autobiográfico, boas inspirações de como sermos profissionais e pessoas melhores. A obra, que como se sabe se tornou best-seller mundial, é parcialmente recriada no documentário de mesmo nome, que chegou ao serviço de streaming da Netflix em maio.
O filme, que é escrito e dirigido por Nadja Hallgren (e tem diversas mulheres atuando na produção e execução), começa acompanhando a agenda lotada de compromissos de Michelle Obama durante a divulgação de seu livro por diversas cidades norte-americanas em 2019. Os primeiros 20 minutos são mais protocolares e apresentam a “personagem Michelle” de forma cuidadosa, principalmente pela magnitude da figura pública que ela se tornou – não só dentro como também fora dos Estados Unidos. Cumprida esta parte mais “correta” do longa-metragem, porém, é possível tirar das palavras de Michelle inspiração para nós, do outro lado da tela, repensarmos não só nossa carreira profissional quanto também nossas escolhas pessoais diárias. Michelle abre diálogo para isso ao contar sobre seus próprios questionamentos. De olho nesses insights, aqui vão cinco momentos-chave do documentário: se você ainda não assistiu, é hora de colocar na lista.
NÃO TENHA MEDO DE MUDAR DE CAMINHO
Uma das principais mensagens passadas por Michelle Obama no filme é a ideia de que nossa trajetória não é estática. Estamos sempre mudando, o mundo também está em transformação, então a ideia de se reinventar é algo que vamos enfrentar mais cedo ou mais tarde na vida. E talvez, nem só uma vez. É esse o momento, inclusive, que a ex-primeira-dama vive atualmente. Está buscando entender quem é a mulher e a profissional que se tornou após a experiência na Casa Branca. Fica claro para quem assiste que ninguém está livre de fazer ajustes no caminho – ou simplesmente mudar de prioridade na vida.
PERSONALIDADE E AUTENTICIDADE
Parece fácil mostrar publicamente quem se é de verdade, certo? Aí está um dos ajustes de imagem mais difíceis de se fazer, em especial para quem está numa posição de liderança. Qual é o limite entre revelar sua personalidade e construir a persona que faz parte de sua carreira profissional? Michelle Obama comenta sobre isso principalmente quando faz um balanço dos erros e acertos de sua participação na primeira campanha de Barack Obama à presidência, em 2008. O jeito absolutamente espontâneo de Michelle nos discursos foi substituído por speeches mais trabalhados e a evolução de seu talento natural como oradora se tornou um trunfo. É hoje uma de suas grandes qualidades como figura pública. Quem não se lembra de sua fala, no discurso da convenção do Partido Democrata, em 2016, quando ela afirma que quando os opositores “jogam baixo, nós jogamos alto”? Uma simples busca no Google já refresca em instantes a memória coletiva para esse fato.
ENCARE SEUS MEDOS
Boa autoestima e competência fizeram com que Michelle Obama avançasse em busca de seus objetivos, mas isso não significa que ela não encontrou diversas encruzilhadas pelo caminho. Mostrar que essa mulher forte e carismática também é alguém vulnerável (principalmente ao jogo sujo de certos veículos de imprensa durante a corrida presidencial) e que precisou de ajuda em momentos pontuais de sua vida é mais um acerto do documentário, que como se sabe traz um recorte pequeno perto de tudo que se lê no livro. É o suficiente, porém, para entender que está tudo bem haver conflitos internos – ainda mais no caso das mulheres, que precisam lidar com a maternidade e uma pausa na carreira quando decidem ter filhos. Algumas escolhas pessoais de vida são contadas pela própria Michelle, e entre as mais importantes de se ressaltar está a de que ela não queria ser vista como um “apêndice do marido”. Ou seja, ela queria ter também suas próprias conquistas profissionais e, em certa medida, a áurea bem-sucedida que “Os Obamas” têm hoje como figuras públicas também se deve ao fato de ela ter priorizado construir uma imagem diferente (e ao mesmo tempo complementar) daquela de seu marido.
LEMBRE-SE DE SUAS ORIGENS
Uma parte considerável do documentário traz Michelle falando de seus pais, do avô, e dos desafios que enfrentou para se formar como advogada – ela foi uma das alunas mais brilhantes não só da escola como da universidade de Princeton, uma das mais concorridas dos Estados Unidos. O espectador conhece a casa onde ela morou e o bairro; fica sabendo que Michelle entrevistou Barack Obama para uma vaga de estágio (foi assim que eles se conheceram). A reconstituição de seus passos no passado ajuda o espectador compreender como Michelle se tornou quem é hoje e o que ela presa como pessoa. É de olho no que sua família passou quando era uma jovem de classe média, em Chicago, que Michelle Obama educa suas filhas, por exemplo. Apesar de Malia e Sasha terem vivido na Casa Branca, a ex-primeira-dama conta que eram elas que arrumavam as próprias camas, ainda que houvesse diversos empregados na mansão presidencial para fazer isso.
TENHA UMA CAUSA E LUTE POR ELA
Michelle Obama é a 46ª primeira-dama dos Estados Unidos, porém, a única de descendência africana a ocupar o posto. Como mostra a História, Michelle não poderia se furtar ao combate do racismo – e ela nem deseja fazer isso. Sabe da importância de sua existência pública para avançar com as pautas antirracistas: “Tem muito poder envolvido para sermos descuidados”, fala ela no filme. Até porque ela mesma foi vítima de ofensas raciais enquanto ocupava o cargo de primeira-dama e após deixá-lo também. Parece óbvio que Michelle Obama seja um ícone antirracismo, certo? Sim. Porém, aqui vai mais um ensinamento dela quando assistimos ao filme: Michelle foca sua luta pela causa em conversas com jovens e adolescentes. É ali que ela entende que a semente da igualdade racial precisa se plantada com mais dedicação. Apesar de viver no presente com seus atos, Michelle Obama não perde de vista o futuro que quer construir.