O que tem de tão bacana nesse pedacinho de filme? Para começar, os protagonistas são uma menina negra e sua família. É sobre mostrar, com bastante delicadeza, como é importante haver representatividade no universo da beleza, como meninas e meninos precisam se ver nas telas do entretenimento que priorizam sempre as mesmas narrativas (brancas e europeizantes).
Na produção, a garotinha Zuri acorda e vai se arrumar diante do espelho. Quando solta o cabelo, a tela se enche com seus fios afro. Ela roda e roda os vídeos do Youtube para saber como penteá-lo.
É o retrato de algo corriqueiro, né? Mas a relação com o cabelo afro impacta a vida de milhões de pessoas. “Passamos jornadas capilares pelas quais as pessoas não entendem. Querem tocar e ver se é diferente. Há micro-agressões que tendem a deixar muitas pessoas inseguras. A coisa mais legal que eu já vi nesse projeto é que as pessoas conseguem se relacionar com essas imagens”, disse Matthew Cherry ao site americano Refinery 29, quando entrevistado antes do Oscar.
Mulheres negras, em especial, cujo cabelo precisava ser alisado, quase como regra, para serem aceitas socialmente, se sentiram impactadas. Ainda bem que as gerações mais jovens – como a dessa menina da animação – estão conseguindo quebrar preconceitos e estereótipos racistas ligados à aparência e ao comportamento.
Mas o curta-metragem avança: o responsável por pentear o cabelo da menina é o pai. E daí a trama brinca colocando-o em um ringue de luta no qual imagéticamente duela com os cachos da filha.
O curta é inspirado em um livro homônimo escrito por Matthew Cherry, que deve chegar ao Brasil ainda este ano. E vale lembrar que a produção foi feita com financiamento coletivo – precisava arrecadar 75 mil dólares para existir, terminou com budget de 200 mil. Que seus criadores coloquem muitos outros desenhos no ar. Como plateia e como cidadãos, estamos ansiosos para isso.